As Fronteiras do Não-Lugar

Quase 60% de migrantes e refugiades LGBTTQIA+ viviam com menos de R$ 200 por mês, na pandemia. Este dado faz parte do relatório “As Fronteiras do Não-Lugar: Perfil de Migrantes e Refugiades LGBTTQIA+ no Estado do Rio de Janeiro e os Impactos da Pandemia do COVID-19”.‌

Migrantes e refugiades LGBTTQIA+ vêm ao Brasil em busca de um novo recomeço, mas encontram um cenário muito difícil, atravessado por violências, marginalizações e invisibilização. Com o intuito de traçar o perfil socioeconômico dessa população no Rio de Janeiro, bem como abordar o impacto da pandemia da Covid-19 em suas vidas, a organização ‘LGBT+Movimento’ desenvolveu uma pesquisa com análises sensíveis sobre a trajetória dessas pessoas, suas identidades e as principais dificuldades que enfrentam para integração no novo destino.

‌O relatório é fruto de 46 entrevistas com pessoas LGBTTQIA+ migrantes/refugiadas que residem no Estado do Rio de Janeiro e do acompanhamento das trajetórias de pessoas LGBTTQIA+ em deslocamento no Brasil. O documento chama atenção para a invisibilidade estatística de migrantes e refugiades LGBTTQIA+ vivendo no país e ressalta a importância de políticas públicas de acolhimento e inserção para essa população.

“O relatório nos permite reconhecer a existência ainda muito invisibilizada de migrantes e refugiades LGBTTQIA+ vivendo no Brasil, chamando atenção para o debate escasso sobre o entrecruzamento migração/refúgio e gênero/sexualidade. Com uma investigação inédita com pessoas migrantes e refugiadas LGBTTQIA+, o documento possibilita uma maior compreensão sobre seu perfil e situação social e nos faz refletir sobre as principais dificuldades de acesso dessa população a condições mínimas de cidadania e dignidade, especialmente durante a pandemia do Covid-19”, destaca a advogada Marina Siqueira, uma das fundadoras e diretoras da LGBT+Movimento.

O  relatório mostra que apenas 17,39% das pessoas migrantes e refugiadas LGBTTQIA+ tinham emprego formal durante a pandemia e a grande maioria estava desempregada 78,26%, ou trabalhando no mercado informal 4,35%. Das pessoas desempregadas, 63,8% se identificam como negras, pardas ou mestizas. Entre as pessoas trans/travestis migrantes e refugiadas, os números são ainda mais duros: 80% estavam desempregadas durante a pandemia; dessas 87,5% se identificam como negras, pardas ou mestizas. Também é importante pontuar que 91,5% das pessoas entrevistadas afirmaram estar interessadas em apoio psicológico por dificuldades de lidar com o que estão atravessando.

“A proposta é ampliar o debate para além de somente discutir possibilidades de exercício de sexualidade e identidades. O debate sobre pessoas migrantes e refugiadas LGBTTQIA+ não deve se restringir a aspectos de gênero e sexualidade, pelo contrário, deve se estender para englobar todos os aspectos que se relacionam com o cotidiano e as trajetórias migratórias, sem, entretanto, perder de perspectiva que o gênero e a sexualidade atravessam e constituem essas vivências”, encerra Marina.

Confira o relatório completo.

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